sábado, 28 de abril de 2012

Inútil Paisagem


Mas pra que? 
Pra que tanto céu?
Pra que tanto mar? Pra que?
De que serve esta onda que quebra?
E o vento da tarde? De que serve a tarde? 
Inútil paisagem
Pode ser que nao venhas mais;
Que nao venhas nunca mais...
De que servem as flores que nascem pelos caminhos?
Se meu caminho sozinho é nada...


Tom Jobim

Eu te quero bem


Vou pedir pra você ficar
Vou pedir pra você voltar
Eu te amo
Eu te quero bem
Vou pedir pra você me amar
Vou pedir pra você gostar
Eu te amo
Eu te adoro, meu amor
Te espero para ver se você vem
Não te troco nesta vida por ninguém
Porque eu te amo
Eu te quero bem

Não quero dinheiro - Tim Maia

.


Seu olhar


O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu
O seu olhar
Seu olhar melhora
Melhora o meu...
Onde a brasa mora
E devora o brêu
Como a chuva molha
O que se escondeu
O seu olhar
Seu olhar melhora
Melhora o meu...
O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar
Seu olhar melhora
Melhora o meu...
Ceumar

Das Vantagens de Ser Bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.



Clarice Lispector

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Oração


"Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois..."

Quero!

“Com perdão da palavra, quero cair na vida.”  


 Adélia Prado

Corridinho


"O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, tudo truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é"

Adélia Prado

Telas



Fez quinze anos e tomou uma decisão: viveria um grande amor!

Um par de sapatos de saltos altos, um batom cor de café com leite e um sutiã com enchimento de borracha eram as primeiras armas naquele arsenal de objetos letais. E um plano. Traçado nas tardes de um distante verão, nas páginas de um caderno espiral e resumido à listagem dos grandes amores que lhe visitavam os sonhos: Romeu e Julieta, Peri e Ceci, Rainier de Mônaco e Grace Kelly. E dispensou amores que não chegavam aos balcões e às varandas, às folhas de palmeiras, ao glamour de Hollywood, ao azul do Mediterrâneo.

Quando fez vinte anos decidiu que era o tempo do grande amor. Óculos de tartaruga, roupas pretas e nenhum sutiã eram as definitivas armas naquele laboratório de experimentações. E as fotos pregadas no painel de cortiça, montado no frio que ameaçava as manhãs de primavera.  Sartre e  Beauvoir,  Goddard e Anna Karina. E dispensou amores que chegavam ao som da marcha nupcial e cheirando a flor de laranjeira.

Fez trinta anos, decidindo que era o tempo do definitivo amor. Um par de diplomas, roupas de grife e perfumes franceses tornaram-se as armas que empunhava dia a dia, durante todos os dias daquele outono, enquanto o vento frio do entardecer espalhava as folhas onde escrevia nomes: Tristão e Isolda, Abelardo e Heloísa, Carmem e Don Jose... E renegou amores dissonantes, de colorido cotidiano.

Quarenta anos e o tempo de qualquer amor. Um par de olhos cansados, roupas largas e o cheiro do tempo perfumando as madrugadas de insônia e devaneio. E as lembranças coladas à pele como se fora uma segunda pele no inverno que a noite anunciava.

Ontem, fez cinquenta anos.

Ro Druhens

Ainda que mal


Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.


Carlos Drummond de Andrade

Meu plano


Tenho pensado nisso, esses dias... 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Não tenhamos medo de ser gente.

E quantas e quantas vezes nos pegamos pensando, lembrando, consumindo nosso tempo com alguém. Somos seres capazes de nos relacionarmos com os demais, seres de paz, de amor e de luz. Seres. Somos. 
E são esses relacionamentos que fazem sentido cada vez mais à nossa passagem por este mundo. É tão bom amar! É como diz a música de Chico Buarque, descobrimos que "todos juntos, somos fortes!" Tanto amor temos dentro da caixa do peito, caixinha essa que vive a esperar por pessoas perfeitas, pessoas que se encaixem em nossos sonhos. É lamentável, quando descobrimos que elas não se encaixam em nada, e tampouco são perfeitas. O máximo que elas podem ser é pessoas, e isso já nos diz tudo. Terão defeitos inimagináveis, te machucarão até mesmo sem pedir desculpa depois, nos farão marcas. O bom é que a gente encontra, uma vez por outra, um ser que nos tira desse mundo marginal e esquenta nosso coraçãozinho que há muito tempo estava friinho. De vez enquando, a gente encontra alguém que faz nosso coração bater destrambelhado. Mas, mesmo tendo um alguém tão especial, o mundo pode querer meter a porrada na gente. E a gente sofre! Sofre, mas aprende uma lição a partir daí: nada de vinganças. Lembremos sempre das roseiras, meus amigos. Quando podadas, ficam feinhas, tristinhas, tornam-se as plantinhas mais defasadas de um jardim. E o que fazem para se vingar? Dão mais rosas do que nunca!
Façamos o mesmo. Nos vinguemos da melhor forma! Façamos o contrário que o mundo nos impele. Quanto mais ódio recebermos, mais amor estejamos prontos para dar! Que venha a ira, o rancor, iniquidade, não tenhamos medo, pois o amor dentro de nossa caixinha do peito e o ser tão especial ao nosso lado, destruirão tudo isso. Não tenhamos medo de ser gente. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Fuga

Nos meus sonhos eu fujo
Faço as malas e sumo
Vou andando devagar pra você me alcançar
Viro numa esquina e paro no mesmo lugar
Em que eu te conheci
Mas você não estava lá dessa vez
Para me dizer pra onde devo ir
Eu sei que quando anoitece
Nos teus sonhos também estremece
A vontade de fugir
Então siga por ali
Vire aquela esquina e vamos partir
Eu sei que quando anoitece
Nos teus sonhos também estremece
A vontade de fugir
Então siga por ali
Vire aquela esquina e vamos partir

Fuga n° 1 - Thiago Pethit

terça-feira, 3 de abril de 2012

segunda-feira, 2 de abril de 2012

"Perder-se também é caminho."

"Perder o rumo é bom, quando perdido, a gente encontra um sentido escondido em algum lugar. Devolva-me o que você levou ou leve-me contigo, perca-se comigo..."



domingo, 1 de abril de 2012

Acalma



Não sei andar sozinho por essas ruas
Sei do perigo que nos rodeia
Pelo caminhos não há sinal de sol
Mas tudo me acalma no seu olhar
Não quero ter mais sangue morto nas veias
Quero o abrigo do seu abraço que me incendeia
Não há sinal de cais
Mas tudo me acalma no seu olhar
Trechinho de "Seu Olhar" - Humberto Gessinger