quarta-feira, 27 de julho de 2011

Cada dia

Cada dia é um novelo de sentimentos. 
Sentimentos variados, azedos, amargos, negros, 
Coloridos e muito doloridos.
Abraços, sorrisos, tristezas.
Tristeza sempre, sorrisos tristes, algo escondido dentro, sabe?
Talvez a tristeza seja normal, a alegria que talvez não seja.
Mas a tristeza do outro, somente a ele pertence. 
Normalmente já temos nossos problemas para nos tirar o sono.

Cada dia é uma nova dor, uma nova luta.
A gente pode se acabar a qualquer minuto, sair e  não voltar, 
Estar aqui e depois não estar mais. Mas o que importa a morte? 
Ela é uma passagem, isso eu sei. Passagem para um outro lugar, 
Se existir mesmo "Céu" e "Inferno", é para um desses locais que iremos. 
Talvez não exista. E talvez exista sim.
 Mas isso, assim como a morte, também normalmente não nos importa. 


Cada dia a fome nos visita. E o que fazemos? 
Comemos. 
Comemos tudo que está a nossa volta, tudo que podemos, 
Com a avidez própria do ser humano. 
Mas nem tudo satisfaz e nem tudo é saudável. 
Na verdade, nada satisfaz a tal avidez humana. 
E a fome do outro? 
Ah, bobagem. Isso também normalmente não nos importa.


Cada dia vemos a dor de perder alguém, 
De perder um emprego, de não passar naquele tal vestibular, 
De gostar daquela menina que nem sequer te nota. 


Cada dia é um novo dia, uma nova porcaria, 
Uma nova lei aprovada no Senado, uma nova homofobia, 
Uma nova queda, uma nova ascensão, um novos lixo musical, 
Uma "nova mesmice", um novo tédio. Dia de dizer sim ou não, 
Sem comparações, dia de parar de julgar se há inferno ou não e se você irá para lá. 


Cada dia é uma nova tecnologia, um novo celular, 
Um novo filme, novos ídolos e percebemos que aquele artista  
É muito mais legal como pensávamos, mas se foi cedo demais, 
Ou ele vive ainda; mas ninguém o dá o devido prestígio. 


Cada dia pecamos. Olhamos para a mulher do próximo, 
Desonramos nossos pais, bebemos água na boca garrafa, 
Falamos mal da vida alheia, 
Falamos mal até de quem vive conosco dentro de casa. 
Mentimos e invejamos. 
Machucamos até não mais poder. 
Afinal, somos humanos.


Cada dia é uma tristeza. 
Ela já faz parte da gente, está no âmago das coisas.
Mesmo na felicidade, ela se encontra bem escondida, 
Escondidinha, porque não quer se fazer notar. 


Fome, morte, vestibular, dor, pecado, Senado, Céu e Inferno. 
Na verdade, nada faz um sentido se não temos alguém para compartilhar tudo isso. 
Alguém para você chamar de seu. Alguém, simplesmente alguém.


Se não temos esse alguém, tudo passará despercebido, escoará pelos nossos dedos. 
Nunca teremos um novo dia. Sempre o mesmo prazer e a mesma angústia. 
Sempre a mesma tristeza. 





terça-feira, 26 de julho de 2011

Peixes


Peixes são iguais a pássaros,
Só que cantam sem ruído,
Som que não vai ser ouvido.


Voam águias pelas águas,
Nadadeiras como asas,
Que deslizam entre nuvens.


Peixes, pássaros, pessoas.
Nos aquários, nas gaiolas,
Pelas salas e sacadas.
Afogados no destino,
De morrer como decoração das casas.


Nós vivemos como peixes
Com a voz que nós calamos
Com essa paz que não achamos


Nós morremos como peixes,
Com amor que não vivemos,
Satisfeitos? Mais ou menos.


Todas as iscas que mordemos,
Os anzóis atravessados,
Nossos gritos abafados.



Nenung

Traduzir-se

Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém
Fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim, pesa
Pondera
Outra parte, delira
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte, linguagem
Traduzir uma parte noutra parte
Que é uma questão de vida ou morte
Será arte?
Será arte? 

Por Ferreira Gullar

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Diga Não As Drogas


Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta, depois, quando você quiser, é só parar..." e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", "natural" , da terra", que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do "Chitãozinho e Xororó" e em seguida um do "Leandro e Leonardo". Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais frequente, comecei a chamar todo mundo de "Amigo" e acabei comprando pela primeira vez.

Lembro que cheguei na loja e pedi: - Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano. Era o princípio de tudo! Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... "Banda Eva", "Cheiro de Amor", "Netinho", etc. Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: "É o Tchan", "Companhia do Pagode", "Asa de Águia" e muito mais. Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes, então, meu "amigo" me deu o que eu queria, um Cd do "Harmonia do Samba". Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela, respirava por ela, vivia por ela! Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais . . . Comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show de encontro dos grupos "Karametade" e "Só pra Contrariar", e até comprei a Caras que tinha o "Rodriguinho" na capa.


Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu outra: entrei para um grupo de Pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma "música" que não dizia nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos fazíamos sinais combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a coletânea "As Melhores do Molejão". Foi terrível!! Eu já não pensava mais!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas "miseráveis" e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando comecei a escutar "Popozudas", "Bondes", "Tigrões", "Motinhas" e "Tapinhas". Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saia a noite para as festas pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o "caminho das pedras", outros extremistas preferiam o "caminho dos templos". Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa.


Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de Rock, MPB, Progressivo e Blues. Mas o meu médico falou que é possível que tenham que recorrer ao Jazz e até mesmo a Mozart e Bach. Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisas boas e te oferecem drogas.


Se você não reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável e distante; vai perder as referências e definhar mentalmente.


Em vez de encher cabeça com porcaria, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte:


* Não ligue a TV no domingo à tarde;

* Não escute nada qu e venha de Goiânia ou do interior de São Paulo;
* Não entre em carros com adesivos "Fui.....";
* Se te oferecerem um CD, procure saber se o indivíduo foi ao programa da Hebe ou ao Sábado do Gugu;
* Mulheres gritando histericamente são outro indício;
* Não compre um CD que tenha mais de 6 pessoas na capa;
* Não vá a shows em que os suspeitos façam passos ensaiados;
* Não compre nenhum CD em que a capa tenha nuvens ao fundo;
* Não compre nenhum CD que tenha vendido mais de um milhão de cópias no
Brasil; e
* Não escute nada em que o autor não consiga uma concordância verbal mínima.


Mas principalmente, duvide de tudo e de todos.

A vida é bela!!!! Eu sei que você consegue!!! Diga não às drogas!!

Texto de Luís Fernando Veríssimo

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Só de Sacanagem

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva
o lápis do coleguinha",
" Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dá para mudar o final!

Texto de Elisa Lucinda

domingo, 10 de julho de 2011

:)

E mais uma vez nosso sonho de conquistar a Copa de futebol feminino foi com os burros n'água. Nossas heroínas acabaram ficando no meio do caminho, abrindo o espaço para a seleção norte-americana. Os EUA (sempre demonstrando aquele arzinho de superioridade), notavelmente tiveram um desempenho inferior comparado às nossas meninas, mas a sorte não estava ao nosso lado. Falo isso por conta do gol CONTRA marcado aos três minutos do primeiro tempo pela zagueira Daiane e o pênalti perdido pela mesma. Mas deixemos essa lenga-lenga de colocar a culpa em alguém, se fosse de ganhar isso teria acontecido. Não lamentemos, pois temos a melhor do mundo ao nosso lado. Agora sobre a arbitragem, a árbitra australiana não era tão competente, errou em algumas coisitas... Enfim, a maldição americana, mais uma (maldita) vez, caiu por sobre nossa seleção. A única coisa que devemos fazer é agradecer à nossas meninas, que lindamente nos orgulham com sua raça e talento, especialmente, à nossa alagoana. 

Nos resta agora as Olimpíadas e a próxima Copa. Até lá, meninas! o/












terça-feira, 5 de julho de 2011

Inútil Paisagem

Mas pra quê,
Pra quê tanto céu?
Pra quê tanto mar,
Pra quê?
De que serve esta onda que quebra?
E o vento da tarde,
De que serve a tarde?
Inútil paisagem
Pode ser
Que não venhas mais,
Que não voltes nunca mais.
De que servem as flores que nascem
Pelo caminho,
Se o meu caminho
Sozinho é nada?
É nada.
É nada.

Inútil Paisagem
Composição: Tom Jobim/Aloysio de Oliveira